quarta-feira, 9 de junho de 2010

Ninguém me disse que era assim

Alguém disse a você que a maternidade é dividida em antes e depois do parto? Para início de conversa, vamos deixar claro que o período antes do parto não se resume aos meses de gravidez. Mulheres ensaiam a maternidade com as primeiras bonecas e seguem fantasiando, ao longo de décadas, que tipo de mãe serão. Muitas escolhem o nome dos futuros filhos (e até quem vai ser a madrinha) antes de conhecer o pai das crianças.

Do exame positivo às contrações, o tempo passa numa fração de segundo. Precisamos comprar roupinhas (e achar roupa bonita para gestante), passar galões de óleo de amêndoa na barriga, selecionar os conselhos que serão usados, fazer convites do chá de fralda e descobrir por que o bercinho não foi entregue. Depois do parto, as fichas caem feito um caça-níqueis premiado em Las Vegas.

Ninguém contou para você que um bebê tinha capacidade pulmonar para chorar tanto e, aparentemente, sem motivo. É aí que a maternidade começa. Agora, você vai ter a preciosa oportunidade de comprovar na prática toda a teoria de sonhos.

O corpo muda, assim como a rotina, as atitudes, as prioridades, o humor. Nenhuma crise mundial é mais séria do que a cólica. A economia passa a ser regida pela cotação da fralda noturna extra plus comfort dry. A indústria cinematográfica é repudiada ao lançar filmes contendo maus-tratos infantis. Ok, você não tem mais tempo de ir ao cinema, mas quem quer ver criancinhas sofrendo daquele jeito?! Você quer enxergar o mundo cor-de-rosa (ou azul-clarinho, dependendo do sexo). E, se o bebê herdar justamente seu maior defeito (o dedo torto do pé), você até vai achar que, nele, é fofinho.

Outra característica que surge depois do parto: a modificação do seu círculo de amizades. Amigos antigos, porém com o grave defeito de não ter gravidez no currículo, serão deixados em banho-maria.Um ímã invisível (ou o cheiro de Hipoglós?) vai atrair outros casais com filhos, numa espécie de seita na qual todos se entendem e ninguém repara se o leite vazou.

As gracinhas infantis monopolizam a conversa. Para não esquecer nada, você fotografa, filma, anota tudo. E, quando chega sua vez de contar, Meryl Streep incorpora e... palmas para as últimas do bebê! É importante observar que depois do parto o cuti-cutismo vira idioma oficial da casa, paciência.

Ainda no setor da comunicação: se antes do parto você não pronunciava a palavra "cocô em público, prepare-se para narrar diarreias, arrotos e puns, como um Galvão Bueno pediátrico em final de campeonato, até na frente das visitas. A amamentação dá adeus a qualquer timidez. Para saciar a fome do bebê, você não hesita em levantar a blusa e mostrar o peito em pleno corredor do shopping. Caso apareça a barriga fora de forma, encare como uma missão humanitária: as garotas precisam ver mães de carne e osso em ação. Senão elas vão idealizar que é facílimo parir e emagrecer feito a cantora de axé Claudia Leitte - já reparou que as mães-celebridades adoram dizer que "secaram" em tempo recorde e exibir o abdome irritantemente sarado antes de o umbigo do bebê cair?

Depois de virar mãe, comemos o restinho da papinha com peninha de jogar no lixinho (e, assim, engordamos mais um pouquinho). Por maior que seja o cansaço, mesmo à beira da estafa, acordamos no meio da noite quantas vezes for necessário. E continuamos assim depois que eles crescem. Babamos tanto pela cria que algum desavisado pode achar que é a nossa gengiva que está rompendo para vir dentinho. E as caretas ridículas, as cantorias desafinadas? Vale qualquer mico em troca de uma risada gostosa.

A maternidade também provoca insanidades na volta ao trabalho. Conheço mães que se negam a ter o logotipo da empresa como fundo de tela no computador - não com tantas fotos lindas no pen drive! Nós somos capazes de chorar junto na hora de tomar vacina. E de deixar todas as televisões da casa serem monopolizadas por canais infantis (aceite assistir pela milésima vez o mesmo desenho e veja que uma criancinha é capaz de decorar todas as falas de todos os personagens).

É, minha amiga, ninguém disse que ia ser fácil criar um filho, ainda mais botar o fofo de castigo. E não voltar atrás, mantendo a firmeza. Até esses momentos deixam saudade. Mas pode ter certeza de que, sempre que o telefone tocar, você vai largar tudo e atender com aquele tom de voz açucarado. Não importa se o seu bebê estiver com 2 anos ou 20.

O tempo, que espicha a contragosto nossas crianças e faz nascer bigodes e peitinhos, também mostra que as fases seguintes são igualmente mágicas. Acompanhar o crescimento de um filho (apesar de ver que o dedo torto do pé ficou ainda mais parecido com o seu) é um presente dos deuses. Como faz bem perceber que seu bebê virou uma pessoa educada e responsável (liste os elogios que quiser). Dá orgulho e, mais do que isso, alívio - mesmo sem manual, nós conseguimos!

Antes e depois do parto se tornam uma deliciosa nostalgia. Daqui para a frente, você vai seguir sendo solicitada. Prepare-se para estar a postos antes do primeiro dia de aula e depois (pontualmente), na hora da saída. Antes da prova de biologia e depois da nota baixa. Antes do primeiro beijo e depois de um fora. Antes do novo emprego e depois que eles saírem de casa. A vida nem sempre vai ser generosa, até os adultos engatinham às vezes.

Ainda bem que nós, mães, somos fortes como muralhas. Temos colinho liberado, um coração cheio de amor, o conselho certo na hora certa - além de estoque de band-aid e bolo de chocolate. Os filhos seguem seus caminhos sabendo que podem contar sempre com a gente. Antes, depois e principalmente durante.

*Texto da cronista e publicitária Magali Moraes para Revista Claudia Bebê

2 comentários:

  1. TEXTO LINDOOO!! AH!! E É TUUUDO VERDADE.....RS...BJS,LI & BABY !!

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  2. Li, amei!!!!!! Gente, ela descreveu tudo e mais um pouco do que acontece com a vida da gente quando essas criaturinhas aparecem. Gostei demais...

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